O Clamor de Jesus

O qual nos dias da sua carne, tendo oferecido, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que podia livrá-lo da morte, e tendo sido ouvido por causa da sua reverência, ainda que era Filho, aprendeu a obediência por meio daquilo que sofreu.”  Hebreus 5:7,8

Questão

Terá Jesus rogado ao Pai, com clamor e lágrimas, que o livrasse da morte? Se ele sabia acerca do seu destino, por que motivo fez aquela oração no Getsêmane? Além disso, o trecho diz ainda que ele aprendeu a obedecer através do sofrimento. Encontramos aqui três problemas cruciais que merecem resolução acurada. 1, Súplica por livramento. 2, Ele foi ouvido em que sentido. 3, Obediência pelo sofrimento. 

Contexto bíblico

Após a sua última ceia pascal com os discípulos, Jesus dirigiu-se com eles para o Getsêmani e, ali, afastou-se para orar, como está escrito: “Então disse-lhes: A minha alma está triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo. E, adiantando-se um pouco, prostrou-se com o rosto em terra e orou com insistência, dizendo: Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.” (Mt 26:38,39). Sentindo o peso dos nossos pecados começou a sofrer e a jorrar suor misturado com sangue. Não é para admirar que tenha feito aquela oração ao Pai. Jesus, ainda que filho de Deus, era homem, e chorou debaixo do sofrimento. Porém, quando estava caminhando para o Calvário, dirigiu esta frase às mulheres  que choravam: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas e por vossos filhos.” (Lc 23:28).

Embora realmente conhecesse o seu destino, aquela oração foi uma expressão natural de alívio. Mas o trecho de Lucas acrescenta que um anjo chegou para confortá-lo, como está escrito: “Então lhe apareceu um anjo do céu que o confortava.” (Lc 22.43). Esta foi a resposta do Pai. Não o livrou da morte que escolhera sofrer em nosso lugar, mas aliviou-lhe o sofrimento e preparou‑o para suportá-la heroicamente. O facto de Jesus saber que veio expressamente para satisfazer a vontade do Pai foi o bálsamo que  atenuou o seu atroz sofrimento. 

A fonte principal da terminologia usada em Hebreus consta no Salmo 22:24, que narra: “Porque não desprezou nem abominou a aflição do aflito, nem dele escondeu o seu rosto; antes, quando ele clamou, o ouviu.”Notemos ainda o facto de ele ter exclamado enquanto estava sofrendo na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Alguns dos que ali estavam, ouvindo isso, diziam: Ele chama por Elias”… Os outros, porém, disseram: Deixa, vejamos se Elias vem salvá-lo.”  (Mt 27:46–49). Ainda que Jesus não tenha sido liberto da morte, foi ouvido e fortalecido em relação ao sofrimento. O facto de ter aprendido a obediência pelo sofrimento tem também uma explicação. Jesus, propriamente, não aprendeu a obedecer, ele simplesmente, através da sua experiência, chegou ao ponto de apreciar as implicações da obediência à vontade de seu divino Pai. 

Como foi escrito por Isaías cerca de setecentos anos antes da sua morte: “Todavia, foi da vontade do Senhor esmagá-lo, fazendo‑o enfermar; quando ele se puser como oferta pelo pecado verá a sua posteridade, prolongará os seus dias, e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos. Ele verá o fruto do trabalho da sua alma e ficará satisfeito; com o seu conhecimento, o meu servo justo justificará a muitos e as iniquidades deles levará sobre si.” (Is 53:10,11).

O justo foi abandonado para sofrer pelos injustos a fim de os injustos desfrutarem da justiça do justo.  Por este motivo somos justificados pela fé em nosso Senhor Jesus Cristo. Foi através desta experiência que Jesus desenvolveu o conhecimento acerca das implicações da obediência ao plano divino. E, desta forma, também nós ficamos a conhecer as implicações da nosso obediência, conforme escreveu Paulo em Romanos 8:17: “O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus; e, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados.”

Conclusão

Embora não esteja claro por que motivo Jesus suplicou para ser libertado da morte, ainda que ele sabia para o que veio, sabemos, contudo, que foi ouvido e aliviado no sofrimento, e fortalecido para suportá-lo em nosso lugar. Sabemos também que foi glorificado junto do Pai e agora regozija-se pelo resultado da sua morte. Através do sofrimento deixou-nos uma grande lição acerca das implicações da obediência, a qual devemos aprender a fim de sermos também glorificados junto dele.

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