O Dia do Senhor

Eis que o dia do Sen­hor vem, hor­ren­do, com furor e ardente ira, para pôr a ter­ra em asso­lação e para destru­ir do meio dela os seus pecadores. Isaías 13:9

Questão

A expressão ‘dia do Sen­hor’ aparece vinte e cin­co vezes des­de Isaías até ao Apoc­alipse. Impor­ta saber o sig­nifi­ca­do real em todas essas nar­ra­ti­vas. Para isso, observe­mos as diver­sas nar­ra­ti­vas bíbli­cas rela­cionadas com a dita expressão.

Con­tex­to bíblico

Ao exam­i­nar as referi­das citações bíbli­cas, con­cluí­mos que a dita expressão ‘dia do Sen­hor’ tem pelo menos qua­tro sen­ti­dos difer­entes, cujos exem­p­los seguem abaixo. Primeira­mente, dig­amos que ‘o dia do Sen­hor’ rep­re­sen­ta duas opções e dois des­ti­nos. Tan­to sig­nifi­ca dia de sal­vação, como dia de con­de­nação. Isto é, o tem­po de cas­ti­go para uns é, ao mes­mo tem­po, de sal­vação para out­ros, tal como acon­te­ceu no tem­po de Noé. Hou­ve con­de­nação e destru­ição para os des­obe­di­entes, e, ao mes­mo tem­po, sal­vação e vida para os obe­di­entes. No mes­mo dia uns entrarão no céu, enquan­to out­ros serão rejeita­dos ali, con­forme a nar­ra­ti­va de Mateus: “Então dirá o Rei aos que estiverem à sua dire­i­ta: Vin­de, ben­di­tos de meu Pai. Pos­suí por her­ança o reino que vos está prepara­do des­de a fun­dação do mun­do;” (Mt 25:34). “Então dirá tam­bém aos que estiverem à sua esquer­da: Apartai- vos de mim, malditos, para o fogo eter­no, prepara­do para o Dia­bo e seus anjos;” (Mt 25:41). “E irão eles para o cas­ti­go eter­no, mas os jus­tos para a vida eter­na.” (Mt 25:46). Eis alguns exem­p­los bíblicos:

1.    Dia de cas­ti­go para Babiló­nia, que oprim­ia o povo de Deus: “Uiv­ai, porque o dia do Sen­hor está per­to; virá do Todo-Poderoso como asso­lação… Eis que o dia do Sen­hor vem, hor­ren­do, com furor e ira ardente para pôr a ter­ra em asso­lação e para destru­ir do meio dela os seus pecadores.” (Is 13:6,9).

2.   No mes­mo dia do Sen­hor haverá sal­vação para Israel: “Naque­le dia o Sen­hor pade­jará o seu tri­go des­de as cor­rentes do Rio, até o ribeiro do Egip­to; e vós, ó fil­hos de Israel, sereis col­hi­dos um a um. E naque­le dia se tocará uma grande trom­be­ta; e os que andavam per­di­dos pela ter­ra da Assíria, e os que foram dester­ra­dos para a ter­ra do Egip­to tornarão a vir; e ado­rarão ao Sen­hor no monte san­to em Jerusalém.” (Is 27:12,13).

3.    O dia do Sen­hor é tam­bém cono­ta­do com o dia de vinte e qua­tro horas, o Sába­do para os hebreus no AT. “Se desviares do sába­do o teu pé, e deixares de prosseguir nas tuas empre­sas no meu san­to dia; se ao sába­do chamares deleitoso, ao san­to dia do Sen­hor, dig­no de hon­ra; se o hon­rares, não seguin­do os teus cam­in­hos, nem te ocu­pan­do nas tuas empre­sas, nem falan­do palavras vãs”… (Is 58:13). O impor­tante é que o tra­bal­hador des­canse um dia, após seis dias de labu­ta constante.

4.   O dia do Sen­hor é tam­bém usa­do com refer­ên­cia à comem­o­ração da ressur­reição de Jesus:

a.    “E, no  primeiro dia da sem­ana foram ao sepul­cro muito cedo, ao lev­an­tar do sol… Ora, haven­do Jesus ressurgi­do cedo, no primeiro dia da sem­ana, apare­ceu primeira­mente a Maria Madale­na, da qual tin­ha expul­sa­do sete demónios.” (Mc 16:2,9). “Chega­da, pois, a tarde, naque­le dia, o primeiro da sem­ana, e estando os dis­cípu­los reunidos com as por­tas cer­radas por medo dos judeus, chegou Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja con­vosco.” (Jo 20:19).

b.   No primeiro dia da sem­ana, os dis­cípu­los per­se­ver­aram em reunir-se em memória da ressur­reição do Sen­hor:  “No primeiro dia da sem­ana, ten­do-nos reunido a fim de par­tir o pão, Paulo, que havia de sair no dia seguinte, fala­va com eles, e pro­lon­gou o seu dis­cur­so até a meia-noite.” (At 20:7).  “No primeiro dia da sem­ana cada um de vós pon­ha de parte o que pud­er, con­forme tiv­er pros­per­a­do, guardando‑o, para que se não façam colec­tas quan­do eu chegar.” (1 Co 16:2).

c.    Quan­do esta­va cati­vo em Pat­mos, João teve uma visão que se crê ter sido no primeiro dia da sem­ana: “Eu fui arrebata­do em espíri­to no dia do Sen­hor e ouvi por detrás de mim uma grande voz, como de trom­be­ta” (Ap 1:10). 

5.    O dia do Sen­hor rela­ciona­do com a pro­fe­cia de Joel acer­ca da primeira vin­da do Sen­hor: “O sol se con­vert­erá em trevas, e a lua em sangue, antes que ven­ha o grande e ter­rív­el dia do Sen­hor.” (Joel 2:31). E seu o cumpri­men­to con­fir­ma­do por Pedro no dia de Pen­te­costes: “Mas isto é o que foi dito pelo pro­fe­ta Joel: …O sol se con­vert­erá em trevas, e a lua em sangue, antes que ven­ha o grande e glo­rioso dia do Sen­hor; e acon­te­cerá que todo aque­le que invo­car o nome do Sen­hor será sal­vo.” (At 2:16,20,21).

6.   O dia do Sen­hor está tam­bém rela­ciona­do com o tem­po da segun­da vin­da do Sen­hor: “porque vós mes­mos sabeis per­feita­mente que o dia do Sen­hor virá como vem o ladrão de noite;” (1Ts 5:2). “Virá, pois, como ladrão o dia do Sen­hor, no qual os céus pas­sarão com grande estron­do, e os ele­men­tos, arden­do, se dis­solverão, e a ter­ra, e as obras que nela há, serão descober­tas.” (2 Pd 3:10).

Con­tex­to histórico

A Didaquê, um vel­ho doc­u­men­to do segun­do sécu­lo, dá este teste­munho acer­ca do primeiro dia da sem­ana: “Reunidos no dia do Sen­hor, par­ti o pão e dai graças, após con­fes­sardes os vos­sos peca­dos, a fim de que seja puro o vos­so sac­ri­fí­cio. Se alguém tiv­er qual­quer con­ten­da com seu com­pan­heiro, não se reuna con­vosco enquan­to não se rec­on­cil­iar, para que não seja pro­fana­do o vos­so sacrifício. ”

O Apol­o­gista Justi­no, que viveu no sécu­lo II, cer­ca de 150 d. C., ao nar­rar a práti­ca do cul­to cristão, men­ciona que os cristãos reu­ni­am-se no primeiro dia da sem­ana, des­ta for­ma: “Reuni­mo-nos no dia do sol por ser o primeiro dia da sem­ana, dia em que Deus, afu­gen­tan­do as trevas e o caos (matéria), criou o mun­do, neste dia tam­bém nos­so Sen­hor Jesus Cristo ressus­ci­tou den­tre os mor­tos, pois cru­ci­ficaram-no na véspera do dia de Sat­urno (inglês, Sat­ur­day, por­tuguês, Sába­do), e no dia pos­te­ri­or ao dia de Sat­urno, ou seja, no dia do Sol, Cristo apare­ceu aos após­to­los e dis­cípu­los, ensi­nan­do-lhes estas coisas que, para vos­sa con­sid­er­ação, vos ten­ho transmitido.”

O recon­hec­i­men­to ofi­cial do primeiro dia da sem­ana como des­can­so sem­anal cabe ao imper­ador romano Con­stan­ti­no I, decre­to de 7 de Março do ano 321, como segue: “Con­stan­ti­no a Elpí­dio. Todos os juízes, cidadãos e artesãos des­cansarão no veneran­do dia do sol. Os cam­pone­ses poderão, porém, aten­der à agri­cul­tura, por ser este o dia apro­pri­a­do para faz­er a sementeira…” Assim como Con­stan­ti­no recon­heceu a liber­dade de cul­to aos cristãos, recon­heceu-lhes tam­bém o dire­ito de se reunirem no primeiro dia da sem­ana, como era tradição entre eles des­de que Cristo ressus­ci­tara. E, como o séti­mo dia tin­ha o nome de Sat­urno, o primeiro dia rece­beu o nome de ‘dia do Sen­hor’, ou em latim ‘Domi­ni’, Domin­go em português.

Con­clusão

Em vista do expos­to, con­sid­er­e­mos que o dia do Sen­hor sem­pre teve dois sig­nifi­ca­dos: con­de­nação ou sal­vação. Por isso, e vis­to que Ele virá como vem o ladrão para assaltar a casa, deve­mos estar prepara­dos con­stan­te­mente, afim de poder­mos acom­pan­há-lo e não ser­mos ‘deix­a­dos para trás’. Como está escrito: “Depois nós, os que ficar­mos vivos, ser­e­mos arrebata­dos jun­ta­mente com eles, nas nuvens, ao encon­tro do Sen­hor nos ares, e assim estare­mos para sem­pre com o Sen­hor.” (1 Ts 4:17). De acor­do com a sua promes­sa: “Porque o Fil­ho do homem há-de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então ret­ribuirá a cada um segun­do as suas obras.” (Mt 16:27). Assim seja. 

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