Restauração Impossível

Porque é impossível que os que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro, e depois caíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; visto que, quanto a eles, estão crucificando de novo o Filho de Deus, e o expondo ao vitupério.” (Hb 6:4–6)

Questão
É mesmo verdade que um cristão experimentado que tenha abandonado a fé em Jesus Cristo seja restaurado à salvação, ou a mensagem terá outro significado?

Contexto bíblico
Comecemos por dizer que esta epístola foi endereçada aos cristãos hebreus. Tendo sido membros do judaísmo, eles criam em Moisés como o grande profeta de Deus. Porém, agora aceitavam Jesus como Filho de Deus e Sacerdote. Todavia, o autor lamenta o facto do seu pouco desenvolvimento nos conhecimentos bíblicos e diz-lhes que sendo já tempo de serem mestres, ainda precisavam de ouvir os rudimentos da doutrina: “Porque, devendo já ser mestres em razão do tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar os princípios elementares dos oráculos de Deus, e vos haveis feito tais que precisais de leite, e não de alimento sólido.” (Hb 5:12).

Por este motivo, o escritor teme que se desviem da fé em Cristo, tornando-se apóstatas e de tal forma endurecidos no coração, perdendo deste modo a salvação e até a possibilidade de serem restaurados. Não a possibilidade de Deus, mas a sua propriamente, porque para Deus tudo é possível. Todavia, Ele não força a vontade humana, antes reconhece a liberdade de escolha de cada indivíduo. Mas corações endurecidos impedem a germinação da semente da fé – a Palavra de Deus. Por isso, é melhor mantê-la que perdê-la.

Assim, o autor tenta convencê-los da realidade que Jesus é o Filho de Deus e Sacerdote à semelhança de Melquisedeque, a quem deviam manter obediência para conservarem a salvação adquirida. (Cf. Hb 5:8–10). Para isso, alvitra que deviam passar das doutrinas elementares para as mais elevadas e desenvolverem pela prática as suas faculdades mentais: “Ora, qualquer que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, pois é criança; mas o alimento sólido é para os adultos, os quais têm, pela prática, as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal.” (Hb 5:13,14).

E deixa uma advertência acerca do perigo que correm e um convite a prosseguir no seu aperfeiçoamento espiritual: “Pelo que, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento de arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e o ensino sobre baptismos e imposição de mãos, e sobre ressurreição de mortos e juízo eterno.” (Hb 6:1,2).

A vida cristã não é como as marés, ir e vir; pois cada vez que chega à praia, a onda desfaz-se imediatamente. É como o ramo cortado da árvore, ele morrerá depressa. A vida cristã deve ter os seguintes estágios: Início, continuação, desenvolvimento, conservação e fruto. Certa vez, no seu sermão profético, o Senhor mencionou as seguintes palavras com o mesmo teor: “e, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará. Mas quem perseverar até ao fim, esse será salvo.” (Mt 24:12,13).

Conclusão
Quando Jesus afirmou que seria mais fácil um camelo passar pelo buraco duma agulha do que um rico entrar no reino de Deus, perguntaram os discípulos: “Quem pode, então, ser salvo?”. Respondeu o Senhor: “Aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possível.” (Mt 19:24–26). E, ao homem que levou seu filho a Jesus para o libertar, o Senhor respondeu que a possibilidade reside na fé de cada um: “Se podes! — tudo é possível ao que crê.” (Mc 9:23).

Então, o real significado da nossa questão é o seguinte: O autor de Hebreus adverte os cristãos do perigo de não desenvolverem os seus conhecimentos, saindo do nível elementar, a fim de serem mestres da Palavra de Deus, conservarem a sua a sua fé em Cristo, e manterem deste modo a salvação adquirida pela mesma fé. O perigo era o facto de perderem a salvação depois de perderem a fé em Cristo, e os corações ficarem endurecidos como caminhos pisados constantemente para não receberem a semente que produz a fé. (Mt 13:4).

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