A promessa de Deus

Deus não podia ficar inac­ti­vo e perder a comunhão com o homem para sem­pre. Por isso, o Sen­hor prom­e­teu que a semente da mul­her viria para esma­gar a cabeça da ser­pente. Isto sig­nifi­ca que esse Varão viria com autori­dade sobre Satanás para dom­iná-lo e destru­ir as suas obras. Ele esma­garia a cabeça da ser­pente, mas seria tam­bém feri­do, con­forme ficou escrito em Géne­sis 3.15.

O Sen­hor rev­el­ou o seu amor ao homem real­izan­do o primeiro sac­ri­fí­cio de sangue e com as peles dos ani­mais cobriu a nudez de ambos (Gn. 3.21). Esta acção tem um para­le­lo em Isaías 61.10 que diz: “Regoz­i­jar-me-ei muito no Sen­hor, a min­ha alma se ale­gra no meu Deus; porque me vestiu de vesti­dos de sal­vação, me cobriu com o man­to de justiça.” Isto apon­ta­va para o Cordeiro de Deus que havia de vir para tirar o peca­do do mun­do (Jo. 1.29). Ain­da que o homem ten­ha mor­ri­do espir­i­tual­mente, fican­do pri­va­do da comunhão com Deus, ele não mor­reu logo fisi­ca­mente. Todavia, ficou sujeito a voltar ao pó donde viera.

O Sen­hor é jus­to e tem de cumprir a sua palavra. A Sua justiça exige a exe­cução das penal­i­dades dec­re­tadas. Aqui­lo que foi dito terá de acon­te­cer de algu­ma maneira. Deste modo, a Trindade começou agin­do em ben­efi­cio dos pecadores. Três são as prin­ci­pais car­ac­terís­ti­cas div­inas: Amor, Justiça, e Ver­dade. Assim, e para não fal­tar à Sua palavra, Deus decre­tou que ani­mais inocentes fos­sem sac­ri­fi­ca­dos diari­a­mente em lugar dos trans­gres­sores. Nis­to, o Sen­hor cumpriu o seu dito com justiça e amor.

Os sac­ri­fí­cios ani­mais foram insti­tuí­dos com a final­i­dade de sub­sti­tuir o pecador na morte. Logo no iní­cio foram sac­ri­fi­ca­dos ani­mais para vestir o casal com as suas peles. Aí, sangue  inocente foi der­ra­ma­do por causa do peca­do (Gn. 3.21). Abel sen­tiu neces­si­dade de ofer­e­cer sac­ri­fí­cios que agradassem a Deus (Gn. 4.3,4). Noé, de igual maneira, ao sair da arca da sal­vação, ofer­e­ceu sac­ri­fí­cios sobre o altar (Gn. 8.20). Abraão ofer­e­ceu sac­ri­fí­cios con­stan­te­mente sobre o altar (Gn. 12.7,8; 13.4). A fim de agradar a Deus, Abraão até se dis­pôs a sac­ri­ficar o seu úni­co fil­ho, Isaque; porém, ao obser­var a sua pron­tidão, o Sen­hor sub­sti­tu­iu o rapaz por um cordeiro que ali fez apare­cer (Gn. 22.12,13).

Deus instru­iu Moisés para que cada família escrav­iza­da no Egip­to sac­ri­fi­cas­se um cordeiro, cujo sangue apli­cari­am nas suas por­tas como sinal de fé obe­di­ente, a fim de saírem em liber­dade (Êx. 12.3–7). Moisés instru­iu o povo a ofer­e­cer sac­ri­fí­cios pelo peca­do (Lv. 1.1–4). Porém, estes sac­ri­fí­cios ani­mais não tiravam os peca­dos e care­ci­am de repetição con­stante. Assim, os sac­er­dotes apare­ci­am diari­a­mente ofer­e­cen­do os mes­mos sac­ri­fí­cios que não podi­am tirar os peca­dos (Hb. 10.11). Aque­les sac­ri­fí­cios eram o tipo, a som­bra daque­le que viria com poder para tirar o peca­do do mun­do e que João Bap­tista apre­sen­tou como sendo o “Cordeiro de Deus que tira o peca­do do mundo.”

No decor­rer dos anos o povo pas­sou a sac­ri­ficar a Deus somente por tradição, sem o ver­dadeiro arrependi­men­to; então, o Sen­hor começou a abor­recer aque­les sac­ri­fí­cios de sangue, aos quais chamou ofer­tas vãs por causa do seu peca­do (Is. 1.10–13). O que Ele esper­a­va, e exi­gia, era um ver­dadeiro arrependi­men­to man­i­fes­ta­do por mudança de vida e práti­ca social, com a promes­sa de perdão e purifi­cação de todo o peca­do (Is. 1.16–18). Assim é tam­bém em nos­sos dias. Qual­quer sac­ri­fí­cio humano é sem val­or se não con­tar com ver­dadeiro arrependi­men­to e con­ver­são aos val­ores espir­i­tu­ais insti­tuí­dos pelo Senhor.

A expi­ação no Anti­go Testamento

O sen­ti­do exac­to de expi­ação é o de faz­er algo que rec­on­cilie duas partes em lití­gio. Podemos obser­var uma ilus­tração na con­strução da Arca de Noé. Deus orde­nou que a betu­masse por den­tro e por fora com betume (cf. Gn. 6.14). Os dois vocábu­los hebraicos exis­tentes para betu­mar têm a raiz “rpk” (kâfar) que mais adi­ante é usa­da para “expi­ar:” Assim como a arca foi cober­ta com betume para sal­vação das vidas, tam­bém o peca­do devia ser cober­to com sangue para sal­vação das vidas.

Uma vez que o homem entrou em lití­gio com Deus pela des­obe­diên­cia, havia neces­si­dade de ofer­e­cer a Deus algo que restaurasse a comunhão per­di­da. Quem ofer­e­ceu essa solução ao homem foi o próprio Deus, con­forme está prova­do pelos exem­p­los aci­ma expos­tos. Esta acção rev­ela a Sua extrema bon­dade (cf. Sl. 103). Por out­ro lado, a ofer­ta sac­ri­fi­cial do homem rev­ela a sua von­tade de prop­i­ciar o seu Cri­ador para reen­con­trar a paz e a comunhão. Vis­to o sangue ser sím­bo­lo tan­to de vida como de morte, era necessário usar o sangue da víti­ma  para lib­er­tar o vivo da morte.

Con­sideran­do a uni­ver­sal­i­dade do peca­do e a inca­paci­dade do homem resolver o prob­le­ma por si mes­mo, havia neces­si­dade que Deus fizesse algu­ma coisa para reaprox­i­mar o homem de Si. Deus não seria jus­to se não cumprisse a Sua palavra. E Deus não seria amor se não lib­er­tasse o homem da con­de­nação. Ele é amor e justiça ao mes­mo tem­po. Porque não existe amor sem justiça, nem justiça sem amor. O fiel da bal­ança do Sen­hor, o jus­to juiz, deve man­ter-se no pon­to cen­tral. Ele não tem pendências.

Na ver­dade, não há homem jus­to sobre a ter­ra, que faça o bem e nun­ca peque” (Ecl. 7.20). Paulo usou este tre­cho quan­do disse aos romanos: “Não há um jus­to, nem um sequer, todos se extraviaram e jun­ta­mente se fiz­er­am inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só (Rm. 3.10,12). E ninguém pode ocul­tar de Deus o seu peca­do. Ele é tão puro de olhos que não pode ver o mal (Hab. 1.13). Foi por este moti­vo que o homem ficou sep­a­ra­do de Deus. Porque “as vos­sas iniq­uidades fazem divisão entre vós e o vos­so Deus; e os vos­sos peca­dos enco­brem o seu ros­to de vós para que vos não ouça” (Is. 59.2). Este era o moti­vo por que o Sen­hor não respon­dia ao seu clamor.

O salmista recon­hecia que ninguém pode remir a seu irmão, ain­da que ten­ha muitas riquezas, porque a sua redenção é carís­si­ma” (Sl. 49.6,7). É uma ilusão esper­ar e con­fi­ar que os famil­iares poderão pagar algum res­gate pelo seu fale­ci­do. Por con­seguinte, havia neces­si­dade de sac­ri­ficar ani­mais até que alguém com mais poder ofer­e­cesse um sac­ri­fí­cio por todos.

A víti­ma da expi­ação devia ser sem­pre sem defeito para servir de sub­sti­tu­to ao pecador. Por isso, tal víti­ma seria muito cara, pois o peca­do tam­bém não deve ser con­sid­er­a­do coisa banal. A morte da víti­ma era a parte mais impor­tante no rit­u­al da cer­imó­nia expi­atória porque essa era a pena mere­ci­da pelo pecador. Além dis­so, há muitas alusões ao sangue da víti­ma como o meio exac­to da expi­ação. Expi­ação é o acto pelo qual o ofer­tante red­ime, ou repara, a sua cul­pa. É o paga­men­to da sua cul­pa diante de Deus a fim de man­ter o bom relacionamento.

O sangue foi requeri­do por Deus para expi­ação do peca­do (Lv. 17.11), porque sem der­ra­ma­men­to de sangue não há remis­são (Hb. 9.22). O sangue de ani­mais puros foi requeri­do diari­a­mente sobre o altar (Êx. 29.38–42). Nesse altar o fogo arde­ria con­tin­u­a­mente, sem­pre vigia­do e man­ti­do pelos sac­er­dotes em serviço por turnos (Lv. 6.8–13). Além dis­so o sangue foi requeri­do anual­mente no altar para faz­er expi­ação por todo o povo (Lv. 16.32–34).

O sangue dos ani­mais que era der­ra­ma­do e espargi­do à vol­ta do altar cobria o peca­do, mas não tira­va o peca­do de for­ma algu­ma; isto repetia-se anual­mente (Hb. 10.11). Por este moti­vo, havia neces­si­dade de um sac­ri­fí­cio mel­hor (Hb. 9.14,24). Ora, este sangue apon­ta­va para sangue mais valioso, o sangue do Cordeiro de Deus que havia de vir para tirar o peca­do do mun­do. No Anti­go Tes­ta­men­to todo o rit­u­al de sac­ri­fí­cios apon­ta­va para o Cristo que havia de vir a fim de expi­ar os nos­sos peca­dos, der­ra­man­do, para isso, o seu imac­u­la­do sangue…

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