As Chaves do Reino

dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares, pois, na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mateus 16:19).

Questão

Visto que Pedro recebeu as chaves do reino dos céus, qual é o significado das mesmas e de ligar ou desligar?

Contexto bíblico

Usando profeticamente a chave da casa de David a ser entregue ao Senhor Jesus como herdeiro do seu reino, Isaías escreveu: “Porei a chave da casa de Davi sobre o seu ombro; ele abrirá, e ninguém fechará; fechará, e ninguém abrirá” (Is 22:22). Jesus detém a prerrogativa de abrir, legislar e ajuizar a entrada de cada um no reino dos céus. Porém, pode delegar essa função a quem quiser sem perder a prerrogativa.

Embora o Senhor tenha dirigido as palavras supra a Pedro, Ele as dirigiu igualmente aos outros discípulos mais tarde, pois os verbos respectivos estão no plural: “Em verdade vos digo: Tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu; e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu” (Mt 18:18). Porém, o real significado das palavras gregas é o seguinte: “o que ligardes na terra terá sido ligado no céu, e o que desligardes na terra terá sido desligado no céu. 

Os rabis usavam as palavras ‘ligar’ ou ‘desligar’ (dhshj — lushj) com o significado de ‘proibir’ ou ‘permitir’. A escola de Shammai proibia apanhar lenha no sábado. A escola de Hillel, onde o mestre de Saulo estudara, permitia isso. Estas escolas arrogavam-se com poder legislativo segundo a interpretação de cada uma. A doutrina, ou ensino, diz respeito ao poder legislativo. A disciplina, ou correcção, é referente ao poder judicial.

Foi devido a estas práticas legislativas que Jesus censurou os mestres fariseus de irem além do significado real e fecharem a porta de entrada no reino: “Ai de vós, doutores da lei! porque tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes e impedistes aos que entravam” (Lc 11:52).

Chave é símbolo de abertura e autoridade. Assim, o Senhor entregou a Pedro, no dia de Pentecostes, o privilégio de abrir a porta de entrada no reino dos céus a quase três mil pessoas que se arrependeram e aceitaram o baptismo. Mais tarde abriu a porta do reino dos céus aos gentios na casa do capitão romano Cornélio.

Chave simboliza também legislação e juízo. Pedro recebeu também a prerrogativa de legislar a essência do caminho da salvação nas suas epístolas e ajuizar acerca do seu cumprimento. O mesmo privilégio foi concedido aos outros escritores do Novo Testamento, que agiram de modo semelhante. Como ficou escrito por Paulo: “Cuidai pois de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele adquiriu com seu próprio sangue” (At 20:28).

Contudo, qualquer delas depende de autoridade colegial, ou colectiva. Foi por este motivo que Paulo e Barnabé subiram ao Concílio em Jerusalém a fim de legislarem acerca dum assunto delicado (Cf. At 15:27–29). Tendo Paulo chegado a Éfeso, mandou chamar os presbíteros e falou-lhes deste modo: “Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos. Porque não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus” (At 20:26,27).

Os santos receberam a prerrogativa do juízo, como está escrito: “Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida? Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, constituís como juízes deles os que são de menos estima na igreja?” (1 Co 6:3,4). E continua o apóstolo das gentes acerca da prerrogativa entregue aos cristãos: “Para vos envergonhar o digo. Será que não há entre vós sequer um sábio que possa julgar entre seus irmãos? “Mas vai um irmão a juízo contra outro irmão, e isto perante incrédulos!” (1 Co 6:5,6).

O Senhor Jesus, que recebeu a chave de David, é quem mantém essa mesma chave para abrir e fechar, e ordenou a João que escrevesse o seguinte: “Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre” (Ap 3:7). Além da chave de David, Ele detém ainda outras chaves de suprema importância para usar nos últimos tempos: “E o que vivo; fui morto, mas eis aqui estou vivo pelos séculos dos séculos; e tenho as chaves da morte e do Hades” (Ap 1:18).

Uma destas chaves será entregue a um anjo para amarrar Satanás: O quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que do céu caíra sobre a terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo” (Ap 9:1). “E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos” (Ap 20:1,2).

Conclusão

Em vista do exposto, concluímos que a prerrogativa das chaves foi entregue à Igreja, cujo significado é a proclamação do Reino de Deus franqueando a entrada àqueles que crerem e aceitarem Jesus como salvador e Senhor. Os que O rejeitarem ou Lhe desobedecerem serão privados de entrar no Seu Reino. Podemos dizer que a Igreja detém o poder legislativo e judicial delegado pelo Senhor para agir em Seu nome. Isto é, a Igreja declara no mundo o significado da mensagem de Deus e ajuíza o seu cumprimento com vista à correcção de algumas faltas.

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